“Buscai primeiramente aquilo que une, antes de buscar o que divide.” Papa João XXII

“Não há fronteiras nesta luta de morte, nem vamos permanecer indiferentes perante o que aconteça em qualquer parte do mundo. A vitória nossa ou a derrota de qualquer nação do mundo, é a derrota de todos.”
Che Guevara

Em abril águas mil, diz-se. No mês de abril deste ano, também os temas caíram como a chuva. Tocaram-nos, atingiram-nos de uma maneira tão surpreendente que nos assoberbaram por completo. Tudo isto, como é evidente, graças ao precioso contributo das redes sociais que, como a sua palavra indica, sociabilizam, ligam fios e teias infindáveis, muitas vezes, ditando e gerindo, subrepticiamente, os nossos interesses. Optemos pelo aspeto positivo. Assim sendo, fomos todos acompanhando a morte do Papa, que atraiu tanta gente, vinda de todas as esquinas do mundo, para lhe prestar a última homenagem. Fomos acompanhando, de uma forma ou de outra, o acontecimento. Muito já se falou, muito já se disse. A Igreja perdeu o seu chefe, mas o mundo perdeu a voz de um homem integro, inteiro, que espelhava a verdade da sua fé e da sua dignidade. Ainda não refeitos, e de ouvido à escuta no sentido de saber qual o bispo escolhido para dar continuidade ao seu percurso, ou para o pôr em causa, eis que um novo acontecimento desaba sobre nós, provocando o caos, físico, psicológico, emocional e racional: o apagão. Esqueceu-se o Papa porque o papão chegou para lançar a confusão, que se mantém ainda na cabeça de algumas pessoas. Terceira guerra mundial, fim do mundo, retaliação russa, ataque informático, acidente atmosférico… Todos queriam encontrar uma justificação plausível para a situação. O certo é que Portugal ficou sem luz, sem voz; e as pessoas sentiram-se manietadas, incapazes de agir, acima de tudo porque não sabiam, não havia forma de saber, o que estava a acontecer. Com as redes e as comunicações quebradas, as pessoas sentiram-se abandonadas, à mercê da crueldade do destino, porque deixaram de conseguir ser omnipresentes, isto é, estar em todo o lado ao mesmo tempo, apenas com a diferença de uns toques. A brilhante conclusão que daqui retiramos é a de que dependemos todos uns dos outros, mas muito mais de um poder que nos controla, esse sim, omnipotente. Surpreendentemente, depois de algumas horas de susto e de inconveniências acompanhadas por lamentações, os ânimos foram-se acomodando à noite. Nada se podia fazer. Restava-nos apenas esperar. Apesar da consciência do prejuízo, no entanto, foram encontrados outros tipos de comunicação; houve, por exemplo, oportunidade de conhecer vizinhos, até aí praticamente invisíveis, e livros, há tanto tempo a hibernar na estante. Aconteceu tudo isto e certamente muito mais. Experiências partilhadas ou que ficarão para sempre na memória de cada um.

Foi uma lição para nós? Penso que sim. Cometeram-se alguns excessos, compreensíveis apenas à luz do desespero. Mas, no final, penso que o respeito e a admiração por aqueles que se encontram em situação de guerra efetiva cresceram. Será, para eles, mais difícil continuar a alimentar a esperança ou suportar a fome e as necessidades básicas?