“Apesar da sua partida tão prematura, viverão as suas histórias, as suas aventuras, porque todas elas foram partilhadas com pessoas”
A comunidade vilameanense despediu-se de João Loureiro a 16 de Fevereiro. Um filho da terra, empreendedor e dedicado, cuja presença, estou certa, não desaparecerá, pela história de vida que traçou e pelos amigos que conquistou.
O João era um jovem com valor e o Jornal de Vila Meã já o tinha identificado para poder contar a sua história e saber mais da sua dinâmica, projetos e sonhos nesta rubrica que promove o valor e mérito daqueles que seguem e não desistem do seu propósito, seja ele qual for. A edição deste Jovem com Valor é dedicada ao Loureiro. Da minha parte com tristeza de não ter entrevistado o João e ele próprio me ter falado do que conquistou com o seu talento empreendedor.
“Apesar da sua partida tão prematura, o seu enorme legado viverá! Viverão as suas histórias, viverão as suas aventuras porque todas elas foram partilhadas com pessoas”, escreveu, a meu pedido, a sua companheira de vida, Ana Margarida Dias. A par da sua companheira, recolhemos o testemunho de quem com ele privou nas diversas esferas da vida. Que sirva de inspiração o cunho pessoal que o João faz prevalecer nos amigos e familiares que não o vão esquecer.
Ana Margarida Dias:
“Um dia alguém muito especial disse que o João era um “Outlier”, por designação, “algo que está afastado ou que se classifica de modo diferente; um registo estatístico que apresenta um valor assinalavelmente distinto dos outros da mesma amostra”.
E assim era mesmo o João! Nas pequenas e grandes coisas, distinguia-se pelo seu empenho e dedicação! Fazia tudo com um amor gigante, o que fazia parecer que até as mais exigentes missões eram fáceis. Era cuidadoso, meticuloso e muitas vezes o mais exagerado preciosista, mas tudo a que se dedicava saía com uma impressão muito própria que se distinguia a léguas das demais…fazia-o naturalmente, sem esforço, como se não pudesse ser de outra maneira! A vida deu-me o amor dele como presente e será para sempre a coisa mais preciosa que guardarei. Tinha o hábito de mimar toda a gente à volta dele com a sua atenção e cuidado e eu tive o privilégio de ter tudo isso a quadruplicar! Não esquecêssemos de agradecer pelas vitórias e ganhos, para que assim continuássemos a ser abençoados, e pelas perdas e derrotas para que aprendêssemos com elas a melhorar a cada dia. Guardo comigo amorosamente todas essas recordações, umas em forma de memórias, outras em formas de papel. Gostava de deixar mensagens em pequenos pedaços de papel, aqui e ali para que nunca me esquecesse do que era realmente importante, para que me inspirasse e fortalecesse sempre. Nos últimos dias tenho (re) encontrado algumas delas, com uma intemporalidade tal, que bem podiam ter sido escritas por ele naquele exato momento. Era dono de um espírito crítico muito apurado, o que me obrigou a trabalhar, incessantemente, na minha maneira de ver o mundo, o trabalho, as minhas missões, as pessoas e coisas à minha volta. Fazia-o com uma sinceridade que vinha diretamente do seu coração gigante e mesmo quando o que tinha para dizer não era simpático, não era preciso acrescentar com mais nada, nem com o tão típico “digo isto para o teu bem”. Era muito óbvio que era para o meu bem, aliás, era para o meu melhor, era para que fosse mais e melhor. Sabia que qualquer feedback dele vinha carregado de honestidade e verdade, assim como também o sabiam os nossos amigos! Não deixava nada por dizer, nem por esclarecer, fazia por deixar clara a sua visão sobre as coisas. O seu sentido de humor, charme e perícia com as palavras desencorajava os mais sensíveis de se sentirem magoados.
A sua generosidade era infinita e quase sempre escondida e desprovida de vaidade ou de necessidade de reconhecimento. Pessoas, animais, ou causas, ajudava e pronto! Isso encorajava-o a continuar e alimentava-lhe a alma. Apesar da sua partida tão prematura, o seu enorme legado viverá! Viverão as suas histórias, as suas aventuras, porque todas elas foram partilhadas com pessoas, também elas, muito especiais que as recordarão tal e qual como ele gostaria que fosse. Em mim viverá para sempre o nosso amor que o tempo nunca roubará! Tive o privilégio de aprender o seu verdadeiro significado e de saber que o devemos expressar sempre, não vá a vida ceifar-nos a oportunidade para o fazer!”
Arlete Santos:
Um rapazinho de olhos azuis, cabelo desorganizado, e com uma grande pronúncia do norte, chegou até nós (SPDAD) e rapidamente se instalou. Era afável, educado, pertinente. Vivia com intensidade e falava com paixão e, por isso, cativou todos aqueles que privaram com ele. Talvez lhe tenhamos ensinado algo…ou talvez apenas tenhamos despertado o desejo intra-empreendedor que já tinha. Tinha claro que a sua passagem, era somente isso… uma passagem para depois elevar a fasquia e construir algo com o seu cunho pessoal. Vinha bem talhado com o sentido que queria dar à sua vida, baseada nas suas raízes e nos seus valores familiares. E, por isso, no final da sua caminhada por Setúbal, deixou-nos e continuou!
Ana Luísa Oliveira:
O João Loureiro marcou a vida de todos quantos se cruzaram com ele. O sorriso fácil, a capacidade inata de comunicação e a disponibilidade para partilhar o seu conhecimento com os outros, não o deixavam passar despercebido. Cruzamo-nos no “mundo de empreendedorismo” amarantino (Projeto “Jovens Empreendedores”) e foi fácil de perceber que seria uma grande inspiração para os nossos jovens, pelo seu espírito empreendedor, capacidade de inovação, pensamento analítico e crítico e por ser um comunicador incrível! Carregava e expressava muitas das soft skills que nos propomos desenvolver nos alunos, ao longo do projeto. Por essa razão foi por diversas vezes convidado a partilhar a sua história de vida nos Bootcamps para os Jovens Empreendedores, no Colégio de S. Gonçalo, no Externato de Vila Meã e no CENFIM. Tenho a certeza de que marcou muitos dos nossos jovens e em nós deixou uma grande saudade!
Luís Matos:
O João é um grande amigo. Foi e sempre será. Aquele amigo sempre próximo. Sempre leal. Sempre preocupado. Sempre em busca do bem. Sempre a brincar. Aquele amigo super gozão. O João foi um grande empresário. De um problema encontrado, tornou-o numa ideia de negócio e de sucesso. Sempre cauteloso em todos os passos mas com uma energia, garra e força gigante para levar a sua empresa para a frente. Um líder nato e um empreendedor exímio.
João Loureiro foi um dos fundadores da Cargonetonline, criada em 2017. Uma paltaforma para dar resposta aos problemas de transporte industrial. Com a ideia inovadora correu feiras nacionais e internacionais, tendo inclusive marcado presença na Websummit 2018. Nessa altura o João escreveu “Quando a última página de um caderno, “sarrabiscada” numa noite longa… aliada ao desejo de duas pessoas, chega ao WebSummit!”.
Para nós fica o ensinamento do João de que todos os sonhos saiam do papel enquanto a vida nos dá oportunidade.