Aproxima-se o dia 1 de junho, o Dia Mundial da Criança. Penso que já falei bastante sobre este tema noutros contextos, no entanto, considero que se trata de um assunto tão pertinente que nunca é demais repeti-lo e gritá-lo para que as verdades ressoem na cabeça dos mais distraídos e confirmem a sua relevância na dos mais atentos.
Assim sendo, não é necessário sair de casa para sabermos que esta efeméride se assinalou pela primeira vez em 1950 por iniciativa das Nações Unidas, com o objetivo de chamar a atenção para os problemas que as crianças então enfrentavam. Nesse dia, os Estados-Membros reconheceram que todas as crianças, independentemente da raça, cor, religião, origem social, país de origem, têm direito a afeto, amor e compreensão, alimentação adequada, cuidados médicos, educação gratuita, proteção contra todas as formas de exploração e ainda a crescer num clima de Paz e Fraternidade. Oficialmente, o dia é assinalado pela Organização das Nações Unidas (ONU) a 20 de novembro, data em que no ano de 1959 foram aprovados pela Assembleia-Geral da ONU os Direitos da Criança. Na mesma data (20 de novembro), mas no ano de 1989, foi adotada pela Assembleia-Geral da ONU a Convenção dos Direitos da Criança que Portugal ratificou em 21 de setembro de 1990. A celebração do Dia Mundial da Criança varia de acordo com o país; Portugal, Angola e Moçambique adotaram o dia 1 de junho; o Brasil, o dia 12 de outubro.
Certíssimo, dirão. Respiremos tranquilamente, porque afinal os homens são humanos, pois zelam pelo interesse dos pares, no passado e no presente; preocupam-se com o bem geral e principalmente com os agentes do futuro, conclui-se para a nossa serenidade e para afagarmos o nosso ego!
Vejamos agora, noutra perspetiva. A mesma fonte, onde recolhemos as informações acima expostas sobre um passado tão gratificante, partilha connosco uma breve imagem de uns trapos ensanguentados e rotos, no meio de escombros, a movimentar-se e a olhar-nos acusadoramente. Quem a registou não se demorou muito nela, porque incomoda, ou talvez por ser igual a tantas outras. Talvez, talvez. Mas impressionou! Bastou esta simples imagem para deitar por terra toda a empatia convencional criada pelos homens. Todas as crenças arquitetadas ao longo de tantos anos. Se o grito das crianças fosse verdadeiro diapasão, a humanidade ouviria e entenderia que tudo não passa de uma mentira inventada nos tempos livres por aqueles que nunca tiveram fome, nem sede, nem sofreram dores da separação e abandono, nem limparam as lágrimas silenciosas de revolta, nem ouviram sequer o ruído de bombas a rebentar os ouvidos e a alma. O grito da criança que ontem vi, fugaz, passageira, não se fez ouvir. Porque os homens ou os filhos dos homens que escreveram os seus direitos desconhecem o valor da honestidade e da igualdade. Porque há sempre “vozes sábias” e artificiosas que pretendem noticiar algo maior, tentando justificar demagogicamente e serenamente a retificação dos erros. E umas imagens vão apagando, obviamente, outras!
Dia da Criança? Para quantas crianças, afinal?
Somos todos iguais, diz-se, mas também se acrescenta que alguns são mais iguais do que outros.