O (IN)dispensável papel da comunicação social local

Nestes tempos tão conturbados na coerção da imprensa num perturbador contexto em que se vive uma inaceitável agonia de sobrevivência…

É uma circunstância que já não é de agora, que importa refletir, comentar, contestar, (re)agir, diria, pela dignidade de um bem essencial que é o direito à imprensa livre e plural. E neste consumar de dificuldades no contexto da imprensa, que há muito se sente nos órgãos informativos mais locais, mas que com muita resiliência e persistência muitos dos agentes da comunicação social local se vão aguentando, a situação agiganta-se com o que vamos assistindo, provocado pela instabilidade no grupo de comunicação social Global Media, detentor de títulos, entre outros, como o Jornal Notícias, a TSF, o Diário Notícias, O Jogo, reconhecidamente marcantes e essenciais na história e quotidiano da informação em Portugal.

“O jornalismo livre, independente e de qualidade sempre foi vital para a criação de um espaço público dinâmico e para uma cidadania de alta intensidade”, escreveu, há alguns anos, a docente universitária Felisbela Lopes.

Entendo que o papel da comunicação social é essencial, o seu contributo indispensável para garantia da pluralidade, que nos define enquanto comunidade que se completa na diversidade das capacidades, iniciativas, intervenção cívica, solidária, humana, em prol de um futuro melhor e equitativo para todos.

E, neste domínio, o papel do jornalismo local é muito importante na expressão e valorização do território e das suas gentes, contribuindo, pela proximidade, para uma maior difusão do que acontece na sua indispensável ação informativa.

Não sou do tempo do chamado antigo regime e, por isso, pouco ou nada posso escrever sobre o lápis azul da PIDE que escortinava tudo o que se escrevia e depois disso se publicava nos jornais. Nasci na alvorada de abril e, portanto, cresci numa democracia de opinião livre, sem constrangimentos, receios ou riscos de um lápis que amordaçava a expressão dos que tinham uma perspectiva diferente ao regime que até então imperava no nosso país.

Cresci num tempo aberto, interventivo, participativo em que as divergências de pensamento e opinião convivem e o respeito prevalece pela opção dominante ou mais enquadrada na circunstância.

Mas… quantas vezes nos escondemos em lugares de conveniência, quantas vezes abdicamos da nossa participação cívica, quantas vezes nos acomodamos no deixa andar desde que não prejudique a nossa vidinha.

Mas… quantas vezes nos insurgimos levianamente, atiramos mãos cheias de pedras indignados só porque não é da nossa corrente de opinião, desportiva ou política. Quantas vezes apontamos defeitos, incorreções, antes de olhar para o espelho e reconhecer que também nós não fomos ou estamos a ser suficientemente corretos em circunstâncias iguais ou muito semelhantes.

Temos que ser capazes de gerar mudança positiva nas atitudes, numa relação de maior proximidade, compreensão, atenção, respeitando o espaço e importância de asseverar a presença vital da comunicação social.

Que este tempo e circunstância possa ser explícito para as pessoas equacionarem a importância da Comunicação Social e o quanto é essencial para o equilíbrio social. Cada vez mais percebemos o quão é importante salvaguardar a verdade da informação, que se quer esclarecida pela credibilidade do canal informativo.