“Perguntaram…Mestre o que é Natal? E ele esgotando a paciência do perguntador, responde: Você entende o que é a morte? Porque ao entendermos tal passagem, aprendemos de fato o que é esse Renascimento.” Nilton Mendonça

Desculpem, mas também perdi a paciência!

O Natal sempre foi uma época propícia para inventar histórias e dar asas à imaginação. Ao ser solicitada, continuo o fazê-lo com todo o carinho, procurando alimentar a outra face daqueles seres de alma pura que não estão ainda contaminados pela massificação.

Quando o Pai Natal surgiu, descaradamente vestido de vermelho e agasalhado até às barbas, a substituir o meu Menino Jesus que eu me habituei a retratar como a minha infância me ensinara, nuzinho e deitado nas palhinhas apelando para a humildade, aceitei-o como símbolo de partilha fraterna. Afinal, segundo Fernando Pessoa, “o mito é o nada que é tudo”, daí ter considerado o Natal mais enriquecido porque, com duas figuras – O Menino Jesus e o Pai Natal –, o mundo ficaria mais rico, as mensagens chegariam mais longe. Porém, neste momento, duvido verdadeiramente se as mensagens de amor e de solidariedade atingem o seu real propósito.

Penso que não. Por isso repito que perdi a paciência.

Há alguns anos, não muitos por sinal, a televisão trouxe-nos o mundo para dentro de casa, e se vivemos isolados durante séculos, aquele tornou-se o momento de extraordinária expansão. Passámos a fazer parte do mundo, deixámos de estar sós. Era uma oportunidade, única na História, de expandir as consciências, de alertar, de ensinar, de revelar segredos que desvendassem os grandes mistérios da Humanidade. É certo que houve pessoas que alimentaram esse propósito grandioso de unificação, no entanto, com o tempo as suas vozes foram silenciadas. Sem pretender alongar-me muito, questiono: o que temos hoje? Pequenos, grandes e médios ecrãs, sugadores de consciências e de vontades. Tropeçamos a cada momento no lixo televisivo, mal pegamos no comando do televisor. Procuramos um programinha cultural, sei lá, que acrescente alguma informação, por pouca que seja. Não tem audiências.

Compreendo. É muito mais fácil criticar, atacar, julgar os outros que estão mais próximos do que discutir assuntos como a poluição, as alterações do clima, a existência dos extraterrestres ou dos anjos que nos protegem. É mais fácil pasmar para os ecrãs cheios de heróis e de gente linda e sorridente, sem doenças e sem problemas. E é nesse mundo paralelo onde muitas pessoas vivem e se refugiam, seduzidas, obviamente, pelo brilho que mostra apenas o que lhe interessa.

Perdi a paciência. As luzes natalícias ofuscam as consciências, a miséria, as doenças, a fome de muitos e até mesmo os pequenos gestos. É apenas um sinal de esperança, poderão dizer. E para quem, atrevo-me a questionar.

O Natal não pode ser apenas um Nascimento. É urgente que seja um Renascimento.