livro Flama

“Quem ama teima.” Cidália Fernandes

Ao escrever a singela epígrafe, com a qual iniciei este editorial, e depois de colocar a autoria, apercebi-me de que o nome é maior do que a frase. Sorri, evidentemente. Até porque, ao longo da minha vida, sempre desenvolvi uma certa atração pelos nomes pequenos, porque os considerava mais assertivos e aguerridos, mais próximos da alma e da essência; desta forma, podem adivinhar o que se segue, mesmo antes de ler: sempre me desagradou o meu. Dizia eu, à minha pobre mãe, que o meu nome nunca mais acabava. Com o tempo, fui permitindo que ele se colasse à minha individualidade e, quando soube que fazia parte do grande livro da nossa nacionalidade – Os Lusíadas –, resolvi fazer definitivamente as pazes com ele e todas essas querelas foram ultrapassadas. Retomo a ideia inicial. O comentário relativo ao nome foi apenas um breve desvio. Assim sendo, vem a propósito, falar da vontade e da paixão que coloquei e continuo a colocar em tudo o que realizo. Repito: Quem ama teima. Desculpem-me os leitores, porque hoje não irei tecer considerações sobre o país, sobre a política ou sobre as guerras. Sobre esses assuntos falará com mais destreza e competência quem de direito. E são tantas as opiniões e os julgamentos que poderemos questionar quem poderá ter razão. Hoje o assunto é a POESIA. Com maiúscula, pois merece ser evidenciada e tratada com todo o respeito. Apresentei mais um livro de poesia, desta vez, uma autobiografia de António Nobre. Sobre ele direi apenas que não sei onde começa um e termina outra, isto é, onde começa António Nobre e termina Cidália Fernandes. Este livro é apenas o resultado da uma simbiose de identidades, onde se incluem emoções, sentimentos, estados de alma, pareceres comuns. Necessário é lê-lo para compreendê-lo. Apesar de saber que a maior parte das pessoas não entende ou não quer entender a poesia, continuo apaixonada por este género tão amado (nem precisamos de nos afastar muito no tempo) pelos nossos trovadores medievais e particularmente pelo nosso Rei D. Dinis, cognominado o Lavrador.

Habitualmente, procura-se uma definição para tudo o que existe. Porém, ao definimos, limitamos, ao mesmo tempo, circunscrevemos a liberdade de ação, quebramos eventuais laços emergentes. A poesia não se define, pela sua característica singular ligada à essência do homem. Ela nasceu quando o homem sentiu que fazia parte do Universo e que devia a sua existência a uma simples respiração ritmada, interiorizada, sentida. A ausência de registos escritos não assegura este enunciado como sendo verdadeiro, no entanto, quando a escrita se torna uma realidade, a poesia brota e espraia-se pela literatura ao longo dos tempos e dos séculos. Não acredito que seja apenas para alguns, embora seja certo que, para se gostar, é necessário conhecer e deixar-se desafiar pelo novo, pelo diferente. Quanto a mim, posso acrescentar que despertei para a poesia com “O Sono do João”. Mas há outros poemas e outros poetas que continuam a soar dentro da minha cabeça. E a ajudar-me a teimar.

Ainda a propósito do nome, não me interessa saber se António Nobre gostava ou não do seu, sei apenas que adotou o original diminutivo, ANTO, depois de ouvir uma inglesinha acentuar as duas primeiras sílabas do seu nome próprio, António, e que, segundo ele, não percebia patavina de português, facto que o desgostava muito.