A associação Sekoia – Artes Performativas tem estado a desenvolver algumas atividades culturais em Amarante, com especial epicentro em Vila Meã.
O Jornal de Vila Meã falou com o jovem Gustavo Monteiro, que tem estado bastante empenhado no terreno a dinamizar as atividades da Sekoia, nomeadamente a ESCAPA – Oficinas da Performance.
Nesta conversa, revela o firme propósito de nutrir, fomentar e promover a diversidade cultural por meio de abordagens inovadoras e realça o empenho em ampliar a visibilidade de artistas e obras, criando um ambiente cultural independente, contemporâneo e inclusivo.
Adianta alguns projetos a desenvolver em Amarante, nomeadamente a Bienal de Artes Performativas de Amarante “BapAmarante”, com a primeira edição agendada para os dias entre 7 e 10 de junho de 2024.
Fala-nos um pouco de como surgiu a vossa associação – Sekoia – Artes Performativas – e quais são os seus principais objetivos.
Gustavo Monteiro – A nossa associação, a Sekoia – Artes Performativas, tem uma biografia inspiradora de origem e um conjunto de objetivos que definem a nossa missão cultural. O nosso surgimento partiu da vontade de contribuir para o enriquecimento da diversidade cultural, com um foco particular na dança contemporânea e na sua relação com outras formas de expressão artística, como o teatro, a música, as artes visuais, o cinema, a literatura e o pensamento. Atualmente as nossas atividades são vastas, abrangendo desde a produção de obras artísticas até ao desenvolvimento e gestão de eventos culturais. Os nossos campos de atuação são diversos, incluindo a criação artística, a programação cultural, a formação, a pesquisa artística e a mediação cultural.
No cerne da nossa missão encontra-se o firme propósito de nutrir, fomentar e promover a diversidade cultural por meio de abordagens inovadoras que não apenas preservam, mas também catalisam o crescimento e desenvolvimento cultural. Defendemos a liberdade de expressão artística, o diálogo intercultural e o acesso generalizado à cultura e através das nossas incansáveis atividades e esforços contínuos, estamos empenhados em ampliar a visibilidade de artistas e obras, criando um ambiente cultural independente, contemporâneo e inclusivo.
Em breve resumo, a Sekoia – Artes Performativas desempenha um papel central na cena cultural, contribuindo de forma significativa para a riqueza e vitalidade da cultura contemporânea, enquanto promovemos ativamente a diversidade artística. Os nossos objetivos e ações refletem o nosso compromisso inabalável com o florescimento cultural e a preservação da potência da expressão artística em todas as suas manifestações.
Qual tem sido a vossa atividade? Onde se concentra a dinâmica e intervenção da vossa associação?
Gustavo Monteiro – A nossa atividade na Sekoia – Artes Performativas tem sido verdadeiramente dinâmica e abrangente ao longo dos anos. A nossa abordagem sempre se caracterizou pela abertura e colaboração, o que nos permitiu estabelecer parcerias valiosas com artistas e instituições, nacionais e internacionais.
Desde o nosso início, em 2018, tivemos a honra de colaborar com o renomado DDD – Festival Dias da Dança no Porto. Esta parceria resultou no lançamento bem-sucedido do DDD Pro (2018-2019), um segmento de formação profissional dentro do festival, para o qual convidamos artistas como o David Zambrano, a Susan Klein, a Vera Mantero, o Marcelo Evelin, o João dos Santos Martins, entre outros. Também, desde 2018, mantemos uma colaboração contínua com a Vitlycke – Center for Performing Arts, na Suécia, apoiando a programação cultural, organização, produção e realização dos festivais bienais HERE (2021 e 2023), para os quais convidamos a Cullberg Ballet / Deborah Hay, Kinkaleri, Harald Beharie, Thomas Hauert, Edison Studio, entre outros, bem como na programação de formação artística profissional TOWARDS (2018, 2019 e 2023).
Também, desde o início temos desenvolvido relações com artistas com os quais colaboramos regularmente, como Renan Martins, Gaya de Medeiros, analu, Xavier de Sousa, José Laginha, Maria Soares, Carminda Soares, Pedro Prazeres, Duarte Valadares e Gio Lourenço. Com uma sólida base de produção, conseguimos criar e levar a público várias peças de dança contemporânea notáveis, tais como “Saturno A Festa” (2018), “Velvet Carpet” (2019), “Viaduto” (2021-22), “It’s a long yesterday” (2021), “Pós-” (2021), “Hélio” (2022), “Slippery Surfaces” (2022), “Um pedido – por favor, dê-me um exemplar de Deus” (2022) e “Atlas da Boca” (2023).
Um dos nossos projetos mais notáveis é o “Set-up: Podcasts da dança contemporânea portuguesa” (2022-24), que apresenta entrevistas em áudio e vídeo com 26 artistas, disponibilizadas gratuitamente em canais digitais, preservando a rica história oral da dança em Portugal. Além disso, investimos em projetos de criação coletiva, como a “Casa da Sibila” (2020-2022), que envolveu quatro artistas multidisciplinares e resultou em filme, álbum musical, banda desenhada e instalação, apresentados na Quinta do Paço, em Amarante.
Demonstrando uma visão mais empreendedora, em 2021, abrimos os nossos próprios estúdios no centro do Porto com o generoso apoio da Fundação Manuel António da Mota. Estes estúdios servem para ensaios, criação artística, formações e pequenas apresentações.
Por fim, orgulhamo-nos por estarmos a preservar e a desenvolver parcerias institucionais de grande prestígio e relevância no setor cultural. Contámos com várias parcerias, desde o Ministério da Cultura e a DGArtes, que são os nossos financiadores principais, a até ao Fundo de Fomento Cultural, passando pela Câmara Municipal do Porto e de Amarante, a Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação GDA, Fundação BPI “la caixa”, Espaço do Tempo e DDD – Festival Dias da Dança, entre outras instituições de renome. Estas parcerias elas são fundamentais para o nosso sucesso contínuo na promoção da dança contemporânea e das artes performativas em Portugal e além-fronteiras.
E quais têm sido as principais dificuldades?
Gustavo Monteiro – De uma forma geral, as principais dificuldades que enfrentamos surgem, em grande parte, devido à ausência de políticas culturais robustas e plenamente desenvolvidas tanto a nível nacional como local.
Uma dificuldade de extrema relevância que enfrentamos está relacionada com a alarmante falta de literacia cultural, quer na modalidade da dança como na modalidade do teatro. Esta carência tem repercussões diretas nas práticas culturais, manifestando-se numa participação cultural limitada e numa fruição artística deficiente. Consequentemente, torna-se inviável depender exclusivamente da venda de bilhetes ou da prestação de serviços culturais para garantir a nossa sobrevivência.
Para enfrentar esta dificuldade, adotamos uma abordagem estratégica e multifacetada. Em continuo esforço, empenhamo-nos em estabelecer diálogo com os decisores políticos a nível nacional e local, com o intuito de promover a importância do desenvolvimento de políticas culturais que melhorem tanto a oferta como a procura. Posteriormente, procuramos diversificar as nossas fontes de financiamento, envolvendo-nos em concursos públicos de financiamento, estabelecendo parcerias com empresas para obtenção de patrocínios e apoio mecenático, solicitando o financiamento de fundações, autarquias e juntas de freguesia, e mobilizando a sociedade civil local. Além disso, distribuímos os nossos produtos e serviços culturais.
Atualmente é neste equilíbrio entre diversas fontes de financiamento que perseguimos a consecução de alguma sustentabilidade para o nosso trabalho, em especial no que diz respeito ao desenvolvimento dos públicos, através de ofertas de excelência que fomentem a sua procura, com o objetivo de melhorar a participação na cultura e o reconhecimento do valor público das artes. Idealmente, ambicionamos que a participação cultural seja tão abrangente que o financiamento externo não exerça um peso tão significativo na nossa subsistência.
Porém, para vos dar a entender melhor, as artes performativas deparam-se com um problema estrutural conhecido como o “custo de Baumol”. Um exemplo paradigmático, que todos reconhecemos, é o facto de ainda hoje serem necessárias tantas pessoas para levar a cabo uma representação teatral de Hamlet, como na época de Shakespeare. O mesmo ainda se passa com os trabalhos mais contemporâneos, pois uma peça de dança ou de teatro contemporâneo necessita de todos os artistas e técnicos envolvidos, dos cenários, dos meios técnicos, da logística, etc… Este cenário resulta na estagnação da produtividade no setor, ao contrário de outros ramos da economia que conseguem aumentar a produtividade do trabalho através da adoção de tecnologias, evitando assim encargos crescentes. Assim, as artes performativas enfrentam inexoráveis incrementos nos custos de produção que não podem ser combatidos através de inovações tecnológicas. Contudo para combater este problema, não devemos enfraquecer a dimensão das produções em detrimento económico, pois o efeito seria uma esterilização artística e diminuição da qualidade das propostas; nem optar pela substituição das pessoas, que no nosso caso são os artistas e os técnicos, por uma tecnologia de inteligência artificial, pois é algo que levanta muitas dúvidas aos mais variáveis níveis da conceção do que é o fazer artístico e o trabalho criativo. Vista desta perspetiva, a minha solução é cultivar o interesse dos públicos trabalhando no sentido de que estes valorizem e se apropriem das artes e que, ao mesmo tempo o poder político, tanto a nível macro com a nível micro, tenha essa informação do seu lado para nos auxiliar a promover as artes junto de diferentes stakeholders e aprimorar as políticas culturais que orientam o financianciamento às artes para as tão importantes estruturas independentes de criação e programação artística que prestam um serviço público.
Como sentem a recetividade das pessoas à vossa associação? Qual é a sua participação e envolvimento?
Gustavo Monteiro – De facto, a recetividade das pessoas à nossa associação tem sido uma questão crucial e interligada com as dificuldades que enfrentamos. Como mencionado anteriormente, uma das principais dificuldades que enfrentamos é a baixa literacia cultural, facto que influencia a sua participação e envolvimento nas atividades que promovemos.
No entanto, é fundamental notar que acreditamos fortemente na importância da mediação do saber cultural. Em vez de simplesmente fornecer respostas prontas, o nosso objetivo é promover a reflexão, incentivar discussões e orientar a formulação de perguntas, ajudando assim as pessoas a encontrarem os seus caminhos para desenvolverem os seus gostos. Queremos capacitar os públicos para serem autónomos na busca e apreciação de práticas culturais. Um exemplo concreto desse compromisso com a mediação do saber cultural é o projeto ESCAPA que estamos a desenvolver em Amarante e Vila Meã. Este projeto tem como missão recrutar e educar os públicos, capacitando-os para tomarem as rédeas das suas próprias experiências culturais. Em vez de simplesmente oferecer entretenimento, o ESCAPA procura envolver os participantes, desafiando-os a explorarem e aprofundarem o seu conhecimento e apreciação das artes.
Desta forma, vemos a recetividade das pessoas à nossa associação não apenas como um desafio, mas também como uma oportunidade para promover uma participação cultural mais ativa e significativa. O nosso objetivo é criar públicos informados e envolvidos, capazes de apreciar as artes de forma autónoma, contribuindo para o enriquecimento cultural da comunidade.
E os jovens, qual a presença deles na dinâmica da associação e participação nas vossas atividades? Aderem com facilidade?
Gustavo Monteiro – Quanto aos jovens, eles desempenham um papel fundamental na dinâmica da nossa associação e na participação nas nossas atividades. Reconhecemos que são uma parte vital dos nossos públicos, não apenas pelo seu interesse imediato, mas também porque representam o futuro das práticas culturais na nossa comunidade.
O nosso enfoque em envolver os jovens é evidente nas atividades de programação e mediação que desenvolvemos. Procuramos criar programas e iniciativas que sejam atrativas e relevantes para esta faixa etária. O nosso objetivo é proporcionar-lhes experiências culturais enriquecedoras que os incentivem a explorar diferentes formas de arte e a desenvolver o seu gosto pessoal pelas artes desde tenra idade.
Aderir às nossas atividades costuma ser relativamente fácil para os jovens, uma vez que procuramos torná-las acessíveis e cativantes. Procuramos usar estratégias criativas, para alcançar estes públicos e comunicar de forma eficaz. Também envolvemos os jovens na conceção e organização de eventos e projetos, de forma a assegurar que as atividades sejam pertinentes e atrativas para eles.
Acreditamos assim, que ao envolver os jovens de forma significativa, estamos a criar uma “contaminação virtuosa” que se espalha dentro das famílias e nas comunidades. Á medida que os jovens participam ativamente nas nossas atividades e desenvolvem um gosto pelas artes, é mais provável que influenciem positivamente os seus familiares e amigos, incentivando um maior envolvimento cultural de toda a comunidade.
Em resumo, os jovens são uma parte vital da nossa associação, e estamos empenhados em garantir que a sua participação nas nossas atividades seja facilitada e que eles sejam inspirados a explorar e apreciar as artes desde cedo. Reconhecemos que são os públicos do futuro e, como tal, investimos esforços significativos na sua envolvência e educação cultural.
Quanto a projetos, o que podemos esperar? Quais são as vossas ideias e quais as vontades do que desejam fazer?
Gustavo Monteiro – Quanto aos projetos em perspetiva, a nossa organização encontra-se atualmente envolvida em diversas iniciativas empolgantes que estão planeadas para se concretizarem nos próximos períodos. É com entusiasmo que partilhámos algumas das nossas ideias e ambições.
Durante o biénio 2023/2024, com o apoio da DGArtes e do Ministério da Cultura, lançámos o programa “Artists’Shelter”. Este programa foi concebido como um autêntico reduto criativo destinado a acolher e facultar um ambiente propício à realização de projetos artísticos por parte dos criadores. Consideramos este programa de inegável relevância no contexto do fortalecimento da comunidade artística e no estímulo à criação artística. Paralelamente, alinhados com a perspetiva de que o apoio à criação artística desempenha um papel fundamental no fomento da inovação e na expressão no domínio das artes, apresentamos igualmente o programa “Baudrier”. Este último visa conferir sustentabilidade financeira, apoio à produção e assistência logística direta aos artistas, viabilizando a concretização das suas visões criativas em realizações tangíveis.
Além disso, diversos projetos relacionados com a programação e mediação cultural estão a ser empreendidos. Com a convicção de que a arte deve ser acessível e portadora de significado para todas as faixas da sociedade, lançamos o programa “ESCAPA”. As atividades que lhe estão associadas concentram-se na formação de públicos, particularmente no que diz respeito aos públicos jovens, com o propósito de envolver um leque alargado de indivíduos nas artes, contribuindo para aprofundar a sua apreciação e compreensão do vasto universo artístico. Estas atividades desenrolam-se sobretudo em Vila Meã, com destaque para as instalações do Cineteatro Raimundo Magalhães e dos Bombeiros Voluntários de Vila Meã, particularmente durante os períodos de férias escolares. Adicionalmente, estamos empenhados na produção da segunda temporada do nosso podcast “Set-up: Podcasts da Dança Contemporânea Portuguesa”, que terá estreia no nosso canal do YouTube a 18 de fevereiro de 2024.
Por último, mas não menos importante, é com regozijo que anunciamos o festival bienal “BapAmarante”, ou, Bienal de Artes Performativas de Amarante. Este evento de programação cultural, que se afigura como pioneiro na nossa região, nutre grandes expectativas quanto ao seu potencial e impacto para a vida cultural do município. Este evento está agendado para os dias entre 7 e 10 de junho de 2024, com programação dividida entre Amarante e Vila Meã e alguns dos artistas programados são: Gustavo Ciríaco, Bernardo San Rafael, Filipa Francisco e Bruno Cochat, entre outros. Para mais informações sobre este evento podem visitar o website: http://bapamarante.sekoia.pt/
Em resumo, estamos plenamente comprometidos com a promoção da expressão artística em todas as suas manifestações, na oferta de apoio aos artistas e na promoção de experiências culturais edificantes para os públicos. Cada um destes projetos reflete o nosso inabalável compromisso com a criatividade, diversidade e acessibilidade no âmbito das artes.
Para seguirem todas as nossas atividades, encorajamos todos os interessados a acompanhar um ou vários dos nossos canais de comunicação digital.
Website: www.sekoia.pt; Youtube: youtube.sekoia.pt; Instagram: https://www.instagram.com/sekoia.artesperformativas/; Facebook: https://www.facebook.com/sekoia.artesperformativas
Para concluir a nossa entrevista, que mensagem querem deixar a todos quantos nos acompanham através do Jornal de Vila Meã?
Gustavo Monteiro – Para encerrar esta entrevista, desejamos compartilhar uma mensagem de profunda importância com todos os leitores do Jornal de Vila Meã.
A nossa região tem sido, ao longo do tempo, uma autêntica incubadora de talentos artísticos, muitos dos quais conquistaram merecido reconhecimento a nível nacional e internacional. São inúmeros os exemplos de sucesso que confirmam esta realidade sendo que este fenômeno cultural tem sido catalisador para o próspero setor do turismo local, o que faz ressaltar a importante simbiose benéfica entre as artes e o mundo empresarial.
A cultura, enquanto expressão máxima da nossa identidade coletiva, e as artes, como o fio condutor dessa narrativa, desempenham um papel de extrema importância na representação e projeção do nosso território. O investimento nas artes e no desenvolvimento artístico das pessoas cria um legado valioso para a nossa comunidade. Isso não apenas enriquece nossa alma e distingue a nossa região, mas também gera riqueza para todos. Portanto, encorajamos todos os leitores a abraçarem entusiasticamente as iniciativas artísticas locais, a participarem ativamente nas suas atividades, a promoverem junto dos familiares, amigos e colegas os eventos e, sempre que possível, apoiarem financeiramente, sobre a forma de patrocínio, mecenato ou doação, as estruturas culturais locais.
Somente juntos podemos assegurar a continuidade deste trabalho que molda o presente e deixa um legado extraordinário para as gerações futuras. Investir na arte é investir na riqueza cultural, na identidade coletiva e no futuro vibrante da nossa comunidade.