Todos os dias somos bombardeados pela espetacularidade de algumas notícias. E mesmo sem querer, acabamos por relativizar outras. O nosso cérebro não aguenta e a nossa paciência também não. A notícia do naufrágio, da implosão ou da tragédia, se preferirem, do submarino Titan provocou uma onda de consternação no mundo, acompanhada, obviamente por muitas especulações. Merece, penso, alguns momentos de reflexão. De acordo com a Lusa, a 22 de junho, as autoridades anunciaram que o submersível Titan, dado como desaparecido a 18 de junho, tinha implodido e as cinco pessoas a bordo estavam mortas, tendo os destroços sido localizados a cerca de 3.810 metros de profundidade e a quase 488 metros do Titanic, no leito oceânico.
Recorde-se que os passageiros eram o chefe da OceanGate, que organizou o mergulho, Stockton Rush, de 61 anos; explorador britânico Hamish Harding, 58; Shahzada Dawood, 48, e seu filho, Suleman Dawood, 19; e o mergulhador francês Paul-Henry Nargeolet, 77.
Aconteceu no século XXI, num mundo dependente de uma engenharia tão próspera, com uma tecnologia tão desenvolvida, com tantos instrumentos capazes de desvendar os grandes segredos que ainda nos rodeiam. O mediatismo desenfreado continua a escrever sobre o caso e a tentar encontrar justificações, como a falta de certificação do aparelho. James Cameron, o realizador do filme Titanic, considera que “é um caso, isso é muito claro hoje, em que o coletivo não se lembrou da lição do Titanic, os tipos do Oceangate não se lembraram. A arrogância e a prepotência que levaram o navio ao seu destino foram exatamente as mesmas que conduziram aquelas pessoas, e isso tem muito a ver com a sua fé.” Plenamente de acordo. Quantas viagens não foram feitas já para ver o resultado da tragédia que levou para o fundo do mar em 1912 tantas centenas de pessoas? E acrescentaria mais. Em séculos passados, os homens eram lançados na aventura, por curiosidade, mas também por necessidade. Os reis investiam grandes fortunas e entregavam a um grupo de homens a realização do seu sonho de expansão, do qual toda a nação beneficiaria. Desbravaram-se os mares, os horizontes abriram-se e revelaram-se outros mundos. A sede de conhecer mais, legítima e compreensível, continua a levar o homem às viagens espaciais, com o propósito de lutar contra a ignorância e contra a sua condição de “bicho pequeno”, como dizia Camões. Porém percebemos que hoje as aventuras são cada vez mais personalizadas e só viaja quem tem meios para o fazer.
Retomando a frase de Hegel, embora considerada, por muitos, controversa, particularmente por aqueles que prezam o passado e homenageiam as raízes, na verdade, há erros que a história repete, paradigmas que teimosamente persistem nas mentes dos homens, porque não é fácil limpar pensamentos que são transmitidos de geração em geração e assimilados como verdades únicas. A legalização do poder que provoca a segregação social é uma delas. Isto conduzir-me-ia para outras notícias que rapidamente descem ao nível da banalização, como a dos refugiados, a dos que fogem das guerras e da fome, por exemplo, e a dos naufrágios no Mediterrâneo. E cito “De acordo com os dados fornecidos pelo Projeto Migrantes Desaparecidos da Organização Internacional para as Migrações (OIM), há quase 27 mil migrantes desaparecidos no Mediterrâneo desde 2014.”
Que importância lhes dá a imprensa? Quem levanta o baluarte dos direitos humanos? E, finalmente, quem lhes presta atenção? Como pode a morte de 5 homens monopolizá-la de tal forma que perdemos a noção de justiça social e de igualdade entre os homens?