livro Flama

“O exemplo é a escola da humanidade e só nela os homens poderão aprender.” Edmund Burke

Concordo. As citações são estímulo e preenchem algumas lacunas no nosso entendimento, por isso me tenho servido desta sabedoria milenar que tem acompanhado a humanidade. Elas estão mais pragmaticamente presentes também nos provérbios, que constituem autênticas lições de vida. “Quem sai aos seus, não degenera” ou “Tal pai, tai filho” são apenas algumas amostras que poderiam ser aqui apontadas e que vão ao encontro do que se pretende que seja dito. Voltemos à citação. Segundo ela, o melhor mestre é o exemplo. Concordo totalmente.

Durante muito tempo, tanto que se perde na memória, e especificamente antes da escolaridade obrigatória, eram os progenitores e o contexto que veiculavam os ensinamentos. As crianças aprendiam valores e multiplicavam-nos e, desta forma, as aprendizagens iam passando de geração em geração, passando cada um o testemunho do seu antecessor. A imitação é a palavra de ordem e não é considerado anormal encontrar um filho com atitudes violentas, por mera imitação das do progenitor. Ou então, uma criança generosa, porque nasceu num lar onde a partilha é importante. Com a escolaridade obrigatória, a escola passou a ser o grande veículo do ensino-aprendizagem, embora a educação familiar continue a fazer parte, inevitavelmente, dos ingredientes básicos para alicerçar o raciocínio e a inteligência, pois é impossível ensinar sem uma atitude recetiva para aprender. Todos concordam que a educação deve vir de casa e os princípios orientadores nascem no berço, embora todos saibam também que a escola de hoje tanto ensina como educa. É certo. Temos assim a casa e a escola, que têm andado mais ou menos a par, com a companhia paralela dos pares. Porém, e para lá destes três vetores, essenciais para a formação de um indivíduo, há um outro, poderosíssimo, que comanda e que controla: a televisão e as redes sociais. Escondido, subtil, na intimidade das suas casas, pernicioso, envenena as crianças e os jovens dos pais menos presentes. Poderão pensar que é um exagero. Não é. Se há algum tempo a televisão era um veículo de aprendizagem, pois abria horizontes, chegava a todos os lados, trazia o mundo até nossas casas, hoje, embora não pretenda generalizar, alguns programas envenenam os filhos dos pais menos presentes, ou porque não estão atentos ou porque estão a trabalhar. Formatam as mentes, incutindo valores que são para as novas gerações aprendizagens essenciais. E crescem com uma visão extrema e deturpada da vida, como se a apologia de modelos estéticos, modelos etários, sem rugas nem cabelos brancos, a hipocrisia, a indiferença, a calúnia, a falsidade, fossem princípios orientadores de uma sociedade ideal. Tudo isto é o oposto de uma sociedade que se quer evoluída e que caminha para o respeito pelo outro e para a liberdade individual.

Termino não com uma citação, porque seria abusar da vossa paciência, mas com uma quadra popular de António Aleixo:

Não sou esperto nem bruto
nem bem nem mal-educado
sou simplesmente o produto
do meio onde fui criado.