Nasceu em Lisboa, a 2 de janeiro de 1923 e faleceu a 9 de janeiro de 1980.
Foi um escritor surrealista português.
Foi aluno na Escola Superior de Belas Artes, donde foi expulso em 1942 por motivos políticos. Entre 1949 e 1951 e em 1962, participou nas atividades do Grupo Surrealista de Lisboa, do qual saiu em dissidência, para formar mais tarde, juntamente com Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas, Pedro Oom, António Maria Lisboa e Carlos Eurico da Costa, entre outros, os “Surrealistas”, que se apresentavam com um “anti grupo”. Segundo os surrealistas, a arte deve libertar-se das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana, procurando expressar o mundo do inconsciente e dos sonhos; é uma vanguarda artística que transcende a arte, procurando superar a contradição entre objetividade e subjetividade.
Depois de ser preso pela PIDE aquando da “Operação Papagaio”, foi para o Brasil onde desenvolveu várias atividades, como a de encenador e de diretor literário da Editora Samambaia. Regressou a Portugal em 1970. Colaborou, com pequenos contos, no suplemento Fim de semana, do jornal República e no semanário humorístico, “Pé-de-Cabra”. Em 1975, chefiou a redação de O Coiso, semanário impresso nas oficinas do República. Em 1976, aderiu ao PRP. Alguns textos seus, escritos em colaboração, foram recolhidos na Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito (1961), organizada por Mário Cesariny.
Os últimos anos da sua vida foram muito difíceis, tolhido pela doença (degenerescência óssea) e afligido pela pobreza, vivendo na casa materna com a mãe e uma tia, muito idosas. Morreu aos 57 anos.
Publicou em 1973 Contos do Gin-Tonic; em 1974, Novos Contos do Gin; em 1975, Imagem Devolvida, Conto de Natal para Crianças, Casos de Direito Galáctico e O Mundo Inquietante de Josela – fragmentos; em 1979, publicou Lisboa ao Voo do Pássaro.
Postumamente, em 2017 e 2018, foi publicada a Obra Completa: Volume I Ficção (inclui diversos textos inéditos) e Obra Completa: Volume II A Poesia (inclui poemas inéditos), tendo a edição da obra integral do escritor surrealista sido preparada por Tania Martuscelli, crítica de literatura e de arte, professora da Universidade do Colorado/Boulder (EUA) e a maior especialista na obra de Mário-Henrique Leiria.
O primeiro livro, “Ficção: Obras Completas, Volume I”, contém os míticos volumes “Contos do Gin-Tonic” e “Novos Contos do Gin” juntamente com outros contos dispersos e inéditos, uma novela, teatro, guiões e uma banda desenhada.
Mário-Henrique Leiria estreou-se individualmente em livro com os “Contos do Gin Tónico”, em 1973, mais de 20 anos depois de ter começado a participar nas manifestações públicas e coletivas do Grupo Surrealista Dissidente, do qual faziam parte outros vultos daquela corrente artística, como Mário Cesariny ou António Maria Lisboa.
No ano seguinte, publicou “Novos Contos do Gin”, e estes dois volumes acabariam por fazer de Mário-Henrique Leiria um dos autores surrealistas portugueses de culto, tendo somado várias reedições.
Segundo Cesariny, “Mário Henrique foi um homem que implodiu para dentro”.
“Leiria manteve-se fiel à sua própria marginalidade mesmo contra as suas próprias propostas artísticas”, diz Martuscelli.
A Família
Vamos à pesca
disse o pai
para os três filhos
vamos à pesca do esturjão
nada melhor do que pescar
para conservar
a união familiar
a mãe deu-lhe razão
e preparou
sem mais detença
um bom farnel
sopa de couves com feijão
para ir também
à pescaria do esturjão
e a mãe e o pai
e os três filhos
foram à pesca
do esturjão
todos atentos
satisfeitíssimos
que bom pescar
o esturjão!
que bom comer
o belo farnel
sopa de couves com feijão!
e foi então
que apanharam
um magnífico esturjão
que logo quiseram
ali fritar
mas enganaram-se na fritada
e zás fritaram o velho pai
apetitoso
muito melhor
mais saboroso
do que o esturjão
vamos para casa
disse o esturjão.