O filme biográfico sobre o pintor Amadeo de Souza-Cardoso, intitulado “Amadeo”, estreou, a 26 de janeiro, nos cinemas portugueses.
O realizador Vicente Alves do Ó inspira-se na vida e obra do pintor Amadeo de Souza-Cardoso e nesta longa-metragem retrata a ascensão do pintor natural de Amarante e o processo de criação das suas maiores obras. É a história do homem que sonhou pintar o futuro e o seu grande amor por Lucie, a mulher que lutou pela eternidade.
Esta longa-metragem de ficção histórica, inspirada na vida e na obra do pintor nascido no lugar de Manhufe, em Mancelos, a 14 de novembro de 1887 e que cedo parte para Paris, onde faz amizade próxima com Picasso, Gaudí, Modigliani, Apollinaire e Delaunay, conta com Rafael Morais, Ana Lopes, Lúcia Moniz, Ana Vilela da Costa, Manuela Couto, Ricardo Barbosa, Raquel Rocha Vieira, José Pimentão, Rogério Samora e Eunice Muñoz no elenco.
Sobre o filme o realizador, em entrevista à rádio TSF, realça que “se nós achamos hoje que Amadeo é fascinante pela sua história de vida e pela sua pintura, dou sempre este exemplo, porque ele estava muito à frente do próprio tempo dos outros e não só do seu tempo”.
E acentua, a propósito da personalidade do pintor de Manhufe: “Este homem, tenho a certeza absoluta, continuaria a transformar-se, a espantar-nos e encantar-nos com um futuro que poderia levar a sítios inimagináveis”.
“O cinema tem essa capacidade de viajar rapidamente, e eu queria muito trazer o Amadeo para a boca do mundo outra vez”, comenta Vicente Alves do Ó na entrevista à TSF sobre a sua sétima longa-metragem.
O filme é estruturado em três tempos/episódios da vida de Amadeo Ferreira de Souza-Cardoso. Em 1916 quando o jovem Amadeo organiza a primeira grande exposição modernista em Portugal e revela um mundo novo a um país velho e conservador, depois de ter estado em Paris. Recua a 1911 quando Amadeo apresenta os seus primeiros trabalhos à elite artística da cidade de Paris; e por fim, 1918, o fatídico ano da pandemia que assolou o mundo, a gripe espanhola, que matou milhões de pessoas nomeadamente a família Souza-Cardoso, e que abrevia a vida inesquecível deste homem a quem Lucie dedicou o resto da sua vida.
Com cenas rodadas em Lisboa, Óbidos, Sintra, Caldas da Rainha, o realizador explica na TSF porque não gravaram em Amarante e na casa de Amadeo.
“Não filmamos em Manhufe, porque tivemos alguns problemas com a Câmara Municipal de Amarante que numa primeira fase de conversações foi parceira e de repente, a quatro dias de seguirmos para Amarante, deixou cair a parceria e tivemos que refazer o nosso plano todo de filmagens”, revela, comentando que “foi algo duríssimo, confesso que em muitos anos de cinema acho que foi a primeira vez que chorei quando cheguei a casa”.
“Tinha a mala feita, tinha estado imensas vezes em Amarante, tínhamos feito a residência artística em Amarante, fui extremamente bem recebido pelos Sousa Cardoso, umas pessoas adoráveis, receberam-me naquela cozinha incrível que queria filmar e infelizmente não filmei”, acrescentou, ressalvando que sempre tiveram o aval e o desejo da família do artista.
Considerado um dos artistas mais relevantes e importantes do modernismo, nos inícios do século XX, o realizador vê em Amadeo de Souza-Cardoso “um homem de vanguarda num período da História marcado por revoluções, clivagens, o velho a combater o novo, simbolizando esse “novo novíssimo”, que ainda hoje nos inspira”.
O filme “Amadeo” foi produzido com o apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual, da RTP, do Fundo de Turismo e Cinema e da Fundação Calouste Gulbenkian. A sua estreia chegou a estar marcada para 2020, mas acabou adiada, devido à pandemia Covid-19.