Não é coincidência ter começado este editorial com uma citação de Teixeira de Pascoaes, autor amarantino tão amado e reconhecido, não apenas pelos seus patrícios que continuam a calcorrear os caminhos que ele percorreu e onde se mantém a memória dos seus passos, como também por todos aqueles que reconhecem a grandiosidade da sua obra pelo registo dado, pelas palavras ditas, transformadas em conselho, em verdade, em aceitação. Sim, porque, na verdade, considero fundamental que, para se amar um autor, se deve estar de acordo.
Aplaudimos a inauguração das esculturas que ornamentam duas rotundas da Nova Variante em Vila Meã. Sobre aquela que foi erigida ao grupo folclórico ninguém questiona, dada a singeleza e a transparência da sua construção. Quanto às restantes figuras homenageadas, é importante que sejam identificadas: Agustina Bessa-Luís, Acácio Lino e Amadeo de Souza-Cardoso. De Agustina já falámos neste jornal, e continuaremos a ouvi-la e a lê-la sempre, pois a evocação do centenário do seu nascimento constitui mais um alento para o enriquecimento da memória coletiva.
Acácio Lino nasceu em Travanca em 1878, tendo falecido no Porto em 1956; destacou-se como autor de pintura naturalista e histórica, mas também pintou retratos e temas religiosos. As suas telas podem ser encontradas em museus e entidades portuguesas, públicas e privadas, entre outros, por exemplo, no Palácio de S. Bento, em Lisboa, e no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, e em Amarante, no Museu Amadeo de Souza Cardoso e na Casa-Museu Acácio Lino. Foi também fez escultor. Esculpiu os bustos de Soares dos Reis, de António do Lago Cerqueira, de Ciríaco Cardoso e da sua esposa Dina e o medalhão do Mestre José de Brito.
Amadeo de Souza-Cardoso nasceu em Mancelos, a 14 de novembro de 1887 e faleceu em Espinho a 25 de outubro de 1918, vítima de tuberculose. Pertenceu à primeira geração de pintores modernistas, tendo articulado a sua arte através do cubismo, do futurismo e do expressionismo. Refira-se que ao cubismo está associada a arte da representação da realidade através de figuras geométricas (cubos) e o grande mestre foi Picasso. É em Paris que o pintor começa a ser reconhecido e a consagração e as exposições sucedem-se. Relaciona-se com Modigliani em Paris e posteriormente envolve-se em projetos com Almada Negreiros e com o grupo Orfeu, em Lisboa. Na sua pintura encontramos muitas alusões ao telurismo das suas origens, como montanhas, moinhos, plantas, canções. O Museu Municipal Amadeo de Sousa-Cardoso foi fundado pelo Dr Albano Sardoeira em 1947 com o objetivo de proceder à recolha do espólio concelhio, bem como a vida e obra de artistas e escritores amarantinos. Amadeo de Souza-Cardoso é a principal referência do museu.
Outros homens ilustres poderiam fazer parte deste elenco amarantino: António Carneiro com rua e estátua em Amarante, António Nobre com rua em Vila Meã, Ana Guedes da Costa, que em Vila Meã perdeu a rua, mantendo-a em Mancelos.
Não alargo as referências e as homenagens a outros locais, a outras cidades e a outras gentes, porque todos nós devíamos encher o peito de ar, insuflar a alma de orgulho e de satisfação.
Não conheço uma região tão pequena e tão farta de gente merecedora, sem dúvida, de um lugar na história, pela força da sua criação artística, pela sua excecionalidade, pela sua singularidade. Regozijemo-nos, pois, com o que temos e com o muito que é a pertença a este lugar.