Recuperámos o sorriso. Antes da pandemia, que nos obrigou a esconder metade do rosto, a proteger alguns dos canais de ligação ao mundo que nos rodeia e que são, na verdade, essenciais, pois ninguém sobrevive sem ar durante muito tempo, nunca questionei a pertinência da tradicional máxima de que “os olhos são o espelho da alma”. É verdade que eles podem revelar tristeza, alegria, excitação, mágoa, mas não o fazem sozinhos. É o sorriso, ou a falta dele, que completa a caracterização de um perfil, é o sorriso que espelha a alma que temos, a nossa sensibilidade, o nosso interior, que desenha a forma como nos relacionamos com os pares. Recordo que um dia sorri naturalmente para uma criança, que se encontrava sem máscara, e que, surpreendentemente, não reagiu; imediatamente percebi a razão; valeram-me as palavras, que vieram em meu auxílio. Foi nesse momento que percebi. E noutros que se seguiram durante dois anos, que foi o tempo do “recolhimento”. É interessante dizer também que este é o tempo do reconhecimento. Contactamos com pessoas durante todo este tempo e reconhecemo-las agora, ou não, sem máscara.
O sorriso é inato, isto é, surge espontaneamente como resposta a um estímulo. Acrescentamos, a propósito, que há vários tipos de sorriso: o sorriso amarelo, o sorriso honesto, o sorriso franco, dissimulado, matreiro, hipócrita, insolente… e que é uma faculdade exclusiva dos humanos, apesar de essa expressão poder ser utilizada relativamente ao comportamento amistoso de alguns animais, por exemplo, dos cães e dos gatos, que nos são mais próximos (parece que estão a sorrir, dizemos).
Recuperámos o sorriso, repito, apesar dos estrépitos da guerra – e esta referência acompanha inevitavelmente a revolta, a incompreensão, o desconforto. Todos os dias vemos a destruição, a morte, o sofrimento que as megalomanias provocam e que os ódios incendeiam. E perante tudo isto perdemos completamente a capacidade de sorrir, em solidariedade com todos aqueles que choram e que vivem dias de terror.
Vila Meã tem motivos para sorrir. Os Órgãos Sociais da Associação Empresarial de Vila Meã tomaram posse. Esta edição é-lhes quase exclusivamente dedicada. É importante ler os testemunhos de toda a equipa que labuta em prol da comunidade, em prol da defesa de um lugar onde a dignidade e a integridade falam mais alto, onde se promove o crescimento social, pessoal, económico e cultural.
Vila Meã recuperou o sorriso.
Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.