“Temos que ir ao encontro também daqueles que não vêm à Igreja”

Em entrevista à Rádio Região de Basto (RRB) o Pe. Mário Jorge Ferreira falou da experiência absorvente que tem vivido enquanto pároco de 10 paróquias, que compreende as comunidades de Real, Ataíde, Oliveira, Travanca, Mancelos, Carvalhosa, Banho, Vila Caiz, Louredo e Fregim. 

“Ao juntar estas 10 paróquias a ideia é proporcionar uma experiência numa dinâmica de unidade pastoral, que surge pela crescente falta de padres, mas também pela reorganização territorial das comunidades. Perante esta nova circunstância não se pretende que as paróquias percam a sua identidade, mas porque, infelizmente, temos um decréscimo de gente nas comunidades e por isso há necessidade de encontrarmos uma forma de podermos interagir em comunhão entre todos e por isso é imperativo haver relação das comunidades umas com as outras, uma relação de proximidade e fazer um trabalho em unidade”, comentou o Pe. Mário Ferreira, revelando que este é, por enquanto, um caso único na Diocese do Porto, mas também uma experiência modelo. 

Nesta unidade, que congrega a responsabilidade paroquial em 10 comunidades religiosas, o Pe. Mário Jorge conta com a colaboração do Pe. Artur Moreira, como vigário paroquial, do diácono permanente António Abreu e de dois secretários, que têm a seu cargo, cada um, cinco paróquias, divididas pelo vale do Odres e Tâmega. 

“Fazemos um trabalho de equipa e isso é fundamental para nós, pois isso ajuda-nos e apoia-nos muito”, referiu. 

“Há necessidade de dar mais responsabilidade aos leigos, situação que muitas vezes ainda não fazemos e temos a grande dificuldade de achar que os padres têm de fazer tudo”, anotou Pe. Mário Ferreira na entrevista à RRB, considerando que a Igreja tem ainda “muito que caminhar” na abertura a uma maior participação dos leigos. 

“Entendo que os sacerdotes devem estar mais disponíveis para estar com o povo, isso é fundamental, para acolhermos, para ouvirmos, para escutar todas as pessoas que venham ao nosso encontro, que nos procuram”, ressalvou. 

Pe Mário Ferreira

“Com esta quantidade de paróquias fazemos o que podemos nomeadamente estar para celebrar a eucaristia, fundamental e centro espiritual do sacerdote; para atender no sacramento da reconciliação, estar disponível para isso, para ouvir na direção espiritual, para quem assim entender e quiser. Também para ajudar e apoiar, escutar, dar conselhos, para visitar doentes e administrar o sacramento da unção. Isso era fundamentalmente o que o pároco devia fazer”, acrescentou. 

“Entendo que este caminho que se está a formar na Igreja, numa reflexão e partilha sinodal, pode ajudar-nos a encontrar um caminho, porque faz sentir que os leigos são pertença, comunhão, que fazem parte da comunidade e que são importantes, e são eles que nós queremos ouvir”, acentua, comentando que este tempo permitirá à Igreja ouvir cristãos leigos, mas também aqueles que estão mais distantes. 

“Queremos ouvir todos, para que nos possam ajudar em Igreja a fazer um caminho de comunhão, entre todos e é aqui que os leigos tomam sentido da sua pertença, da sua responsabilidade na Igreja e acho que é isso que é importante que o povo de Deus sinta, que estamos para caminhar com eles, que estamos para colaborar, para ajudar, mas é importante que sintam que são eles a Igreja, são eles que têm que fazer o caminho e têm que fazer pela Igreja este modo de estar, de agir e de evangelizar”, asseverou. 

E prosseguiu: “Temos de sair fora das portas das igrejas, temos que ir ao encontro também daqueles que não vêm à Igreja, mas estão nas instituições, estão nas associações, em todos os lados”. 

O Pe. Mário Ferreira reconheceu que se exige muito dos párocos, cada vez mais assoberbados de paróquias e responsabilidades de gestão na organização administrativa e pastoral das comunidades. 

“Os padres acabam por ser um bocadinho de tudo e assumir uma função predominante de gestores. Tenho 10 conselhos económicos e é ao pároco que cabe sempre a decisão. Para além disso, ainda assumo a presidência de duas instituições solidariedade social em Real e Carvalhosa. São demasiadas tarefas que nos preenchem demasiado tempo, mas mesmo assim, não abdico, nem dispenso as horas para o atendimento das pessoas em horário determinado em cada uma das paróquias. Elas estão sempre primeiro”, comentou. 

“É por isso que sentimos dificuldade, de facto nós estamos atolados de trabalho, porque há certas coisas que não podemos delegar e que somos mesmos nós que temos de fazer. Há outras que podem perfeitamente ser delegadas e acho que há necessidade verdadeiramente de sentirem que cada vez mais os leigos, pastoral litúrgica, catequética, toda a pastoral pode, com envolvimento de bons e verdadeiros leigos, preparados, podem ser um grande auxílio para o pároco”, considerou. 

 

Pode ouvir em podcast entrevista na íntegra no site da Rádio Região de Basto:

https://radioregiaodebasto.com/index.php/podcast-rrb.html 

Entrevista Pe. Mário Ferreira à Rádio Região de Basto