Projeto inovador de jovem de Mancelos publicado em jornal internacional

A jovem Beatriz Brás, natural de Mancelos, ex-aluna do Colégio de São Gonçalo, em Amarante, desenvolveu uma mesa com desperdícios agrícolas no âmbito de um projeto de final de curso do ensino secundário de Química Industrial e Laboratorial.

A compilação das palavras ‘mesa’ e ‘carolo’ deu origem ao nome do projeto de Beatriz Brás: “Mesaolo”, que mereceu reconhecimento internacional com a publicação do estudo num jornal científico.

No trabalho, de âmbito escolar, a jovem Beatriz propôs a reutilização de carolos de espigas de milho para construir tampos para mesas. A ideia originale sustentável foi agora publicada na mais recente edição do Open Schools Journal for Open Sciencer, um jornal científico internacional que publica trabalhos de alunos de toda a Europa, desde o ensino básico ao secundário.

A ideia surgiu de uma conversa com o seu professor. A estudante percebeu que aquele desperdício agrícola das espigas, com que lida desde pequena em ambiente de cultivo familiar, lhe poderia ser útil para o seu projeto final. “O professor perguntou-me, uma vez que parte da minha família trabalha na agricultura, se havia algum tipo de desperdício agrícola que pudesse ser reutilizado. Foi nessa conversa que percebi que o aproveitamento do carolo das espigas de milho, por sinal muito utilizado na localidade onde vivo, podia resultar num projeto sustentável, mas nunca imaginei que chegasse a este resultado”, explica.

A verdade é que o objetivo do projeto passava também pela reciclagem e pela redução da poluição provocada pela queima dos carolos, passando assim a reutilizá-los para tampos de mesas, principalmente das escolas.

A jovem sublinhou ainda que nesta aplicação, para além da reutilização de um desperdício, se poupa também no uso de matérias-primas, como madeira.

Desde que pensou no projeto que Beatriz contou com o apoio e incentivo do seu docente na orientação do trabalho.

“É importante salientar o trabalho dos professores. No meu caso, tenho de agradecer a disponibilidade e o apoio que sempre tive”, destaca.

A mesma importância atribui à família, principalmente aos pais, que, mesmo não acreditando no início na exequibilidade do projeto, sempre a apoiaram e ajudaram no desenvolvimento da sua “Mesaolo”.

“Os meus pais foram incríveis, tive sempre o apoio e ajuda deles. Passamos muitas tardes em volta do projeto, desde a fazer os moldes, a cortar ferro, definir medidas, entre outras coisas”, recorda.

No início, Beatriz teve dúvidas quanto à possibilidade de pôr em prática o projeto, mas a sua concretização trouxe-lhe uma “sensação incrível e, acima de tudo, uma enorme realização pessoal”.

“Não estava nada à espera que o projeto tivesse esta projeção e este reconhecimento, nomeadamente que fosse publicado neste jornal. Era um projeto que, de início, não acreditava ser possível concretizar. Ficamos todos orgulhosos. Foi, sem dúvida, uma emoção e felicidade saber que desenvolvi uma ideia que pode vir a ser útil para todos”, comenta.

“Foi também muito importante perceber que tudo pode ser reutilizável, que há fins muito úteis para aquilo que achamos que é desperdício, nomeadamente com produtos agrícolas”, anota.

Os outros interesses da jovem Beatriz Brás

Natural de Mancelos, esta jovem, com 18 anos, está agora no primeiro ano do curso superior de Enfermagem, no Instituto Politécnico de Bragança, área que sempre a fascinou.

Tem gostos e atividades um tanto ou quanto peculiares para a sua geração, muito embrenhada na internet e novas tecnologias.

A pequena Beatriz, revela, sempre se preocupou com o outro, com a sociedade, e sempre quis ter um papel ativo.

Desde cedo que se interessou pela cultura popular, mais propriamente pelo folclore. Aos oito anos ingressou num rancho folclórico de Mancelos, onde se mantém até aos dias de hoje.

Mais tarde, juntou-se ao Grupo de Jovens da freguesia e ainda vai disponibilizando tempo no serviço pastoral da catequese.

“Ter um papel participativo na sociedade deixa-me feliz e faz-me sentir útil”, considera.

Muito por influência da família, Beatriz sempre foi muito participativa nas diversas atividades que na sua freguesia se realizavam. Acredita que a sociedade só ganharia se ouvisse os mais jovens, principalmente no que respeita às atividades lúdicas e associativas. No entanto, acredita também que se os jovens demonstrarem ideias estruturadas e bem definidas, conseguem ter um papel ativo e levar a cabo as suas ideias.

No meio de tantas experiências e a frequentar um curso superior na área da saúde, Beatriz Brás não deixa nenhuma atividade para trás. Diz que desde que haja vontade, há sempre tempo para conciliar tudo. E lamenta que a Covid-19 lhe tenha tirado as atividades que mais gosta de fazer.

A participação no rancho folclórico é o que lhe deixa mais saudades: “sinto falta de estar no rancho, faz-me sentir muito, muito bem”.

“As atividades acabam por ser libertadoras e, ao contrário do que possam pensar, não nos tira tempo e acaba por ser benéfico, tanto para nós como para o nosso grupo de amigos”, anota.

Apesar de concordar que a maioria dos jovens da sua idade estão cada vez mais focados e dedicados às tecnologias, Beatriz explica que ela e o seu grupo de amigos exclui praticamente o telemóvel quando se juntam.

“Damos mais valor ao convívio e quando é para estar com os amigos, e com a família, é a isso que nos devemos dedicar”, sublinha.

Todos os dias vemos os jovens cada vez mais ligados à internet, às redes sociais. Durante a conversa, comenta-se que as novas tecnologias são, e devem ser, utilizadas como um meio e ferramenta de comunicação, mas não permite a interação, a socialização, a ligação às raízes, aos costumes e tradições de cada população.

Beatriz optou, por isso mesmo, ser parte integrante e participativa da sociedade. É claro que a internet faz parte do seu dia a dia e a sua utilização é inevitável, mas ocupar os tempos livres no mundo virtual não lhe proporciona tanta satisfação e bem-estar pessoal. Desta forma, procura utilizar o pouco tempo livre para se dedicar ao que a faz feliz e ao que a transporta para junto dos seus.

“Ando no Rancho porque gosto e, ao contrário do que possam pensar, não acho nada antiquado”, afirma.

Beatriz Brás tem os seus objetivos e interesses bem estruturados. A publicação do seu projeto do secundário certamente lhe tratará benefícios e reconhecimento.

Quanto ao futuro, a jovem vai tentar cumprir os seus sonhos: terminar o curso de enfermagem, ficar a trabalhar perto de casa, e registar a patente deste projeto da “Mesaolo”.