Akashinga. É uma palavra estranha, como são todas as palavras desconhecidas, enquanto destituídas de significação. São como os ramos secos, sem vida e sem alma. Mas tal como os ramos ganham vida, quando a primavera lhes toca, também as palavras adquirem alma, quando nos falam.
Acabei de ver um pequeno documentário de 2020, no National Geographic, intitulado “Akashinga: the brave ones”. Pesquisei e entre outras informações, retive as mais relevantes. Trata-se de um grupo exclusivamente feminino que combate a caça furtiva no Zimbabué. Akashinga foi fundada em 2017. As mulheres de Akashinga foram recrutadas pelo conservacionista australiano Damien Mander, fundador da International Anti-Poaching Foundation. Os dezasseis Akashinga originais foram recrutados para serem agentes de conservação do Phundundu Wildlife Park.
Em contraste com outros grupos que combatem a caça furtiva exclusivamente femininos, como a Unidade Anti-caça furtiva Black Mamba na África do Sul, os guardas florestais de Akashinga estão armados. Desde 2017, o grupo prendeu centenas de caçadores ilegais. Muitos dos Akashinga são sobreviventes de violência doméstica e/ou agressão sexual.
Amazonas. Outra palavra menos estranha, que inevitavelmente surge associada à anterior. As amazonas formavam, de acordo com a mitologia grega, um reino independente, exclusivamente feminino, governado por uma rainha; a primeira, ter-se-ia chamado Hipólita. Heródoto chamou-lhes matadoras de homens. Avançando muitos séculos, durante os quais muito aconteceu, nasce na civilização moderna a figura da Mulher Maravilha. Filha da rainha Hipólita, a princesa Diana possui habilidades super-humanas e foi enviada ao mundo dos homens para propagar a paz, sendo a defensora da verdade e da vida, na luta entre os homens e o firmamento, entre os mortais e os deuses.
Este nome está também associado a mulheres que montam a cavalo, participando em provas de equitação em destreza ou salto.
Aqui chegados, constatamos que, na verdade, o conceito é o mesmo.
Embora as amazonas não usassem armas de fogo, serviam o propósito de combater pela justiça e pela igualdade de direitos. As sociedades que se seguiram não lhes permitiram o sucesso que mereciam, porque foram dominadas por ideais formatados pela estrutura de uma sociedade estritamente masculinizada. Mesmo as versões masculinas que, entretanto, foram criadas para combater os males sociais, como o Homem-Aranha ou o Super-Homem, só tiveram sucesso no mundo virtual dos ecrãs cinematográficos. O que é que nos resta, afinal? A fatal conclusão de que se a mulher não teve sucesso nessa luta hercúlea, o homem também não. Regressemos ao conceito referido em primeiro lugar – Akashinga. São guerreiras da atualidade, convenientemente preparadas, que pegam numa arma e combatem a caça furtiva ao elefante. Não são produto da ficção, existem e honra lhes seja feita. Sem açucarar a ideia, direi mesmo que será, de facto, necessário que grupos destes proliferem para que a alteração se verifique, para que os animais, nossos vizinhos no planeta, com quem partilhamos a respiração, a alimentação e a habitação, sejam respeitados; para que o mundo recupere a sua essência, a sua virgindade original.
Auguro que talvez este isolamento social, penso já o ter escrito várias vezes e dito muitas mais, permita que as pessoas abram as consciências para este facto: o homem é um simples convidado neste planeta e, por isso, deve protegê-lo incondicionalmente, abolindo atitudes de destruição e de devastação, como tem feito ao longo dos séculos. A Natureza responde de uma forma cada vez mais musculada, como temos verificado, e o homem é a sua principal vítima.